O CEADS disponibiliza o vídeo e o texto sobre Dermatoses Ocupacionais.

Data: 04.02.2021

Segundo o Professor Doutor Salim Amed Ali (2), sócio fundador do CEADS e, profundo conhecedor do assunto:

“A Dermatose Ocupacional ( DO), ou Dermatose Profissional é toda alteração da pele, mucosa e anexos, direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada pela atividade profissional ou por tudo que há no ambiente de trabalho” ( 2).

A primeira descrição sobre DO em algumas profissões é atribuída a Paracelso em 1491. Em 1755, Percival Pott, descreve o câncer de escroto em limpadores de chaminés de Londres (1).

No Brasil, são raros os estudos epidemiológicos sobre DO, pois não há notificação compulsória. A subnotificação é alta e os trabalhadores, não procuram os postos de Saúde com medo de perder o emprego (1). Nos países industrializados a ocorrência de DO é de 60% ( 3).

As mãos, em geral, são as áreas mais atingidas devido à manipulação de muitas substâncias, excesso de umidade e/ou atrito ( 4).

Nos homens, as substâncias sensibilizantes mais comuns estão nos produtos contidos no cimento e na borracha dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI).São lesões de mãos e antebraços (1).

Nas mulheres, o sensibilizante mais comum é o níquel, presente em bijuterias, mas que as incapacitam para diversas ocupações. As lesões se localizam em mãos, orelhas e pálpebras ( 5,6).

Na construção civil, são mais de duzentas ocupações ( 7) e, os pedreiros apresentam sempre 50% das DO, sendo o bicromato de potássio presente no cimento o responsável pela DO.

Na indústria metalúrgica, as DO ocorrem devido a conservantes dos Óleos de Corte, Lubrificantes e Metais da Galvanização ( 8 ).

Na área cosmética, destacam-se o persulfato de amônia, usado na descoloração dos cabelos, o níquel e o cobalto, a parafenilenodiamina usada na tintura dos cabelos e tatuagem de hena, látex e vulcanizadores da borracha das luvas, próteses de unhas e cosméticos (1).

No setor de Saúde, chamam a atenção, os aditivos da borracha das luvas, metais, resinas epóxi e acrílicas e agentes de desinfecção e higiene (1).

No setor de limpeza, os aditivos dos produtos de limpeza, antioxidantes, corantes , branqueadores , perfumes e germicidas, são os agentes mais comuns de DO, além da lanolina dos sabões ( 9).

No setor gastronômico, os adoçantes. emulsificantes, espumantes, branqueadores, fermento são os mais comuns agentes das DO.

Na cozinha, os principais agressores são os alimentos irritantes como frutas e trigo e os sensibilizantes como alho, cebola, tomate, cenoura e aspargos e os fotossensibilizantes como salsa e cascas de laranja e limão ( 9).

Os Sensibilizantes mais comuns:

Metais: cromo ( cimento e couro) e Níquel ( bijuterias).

Antibióticos: neomicina e penicilina

Quimioterápicos: furadantina

Cosméticos: hidroquinona, fenol e formol.

Borracha: hidroqinona, parafenilenodiamina e tiurans.

Plásticos: polivinil, polietileno e epóxi.

 

Quadro Clínico:

 

Elaiconiose: trata-se de uma erupção cutânea semelhante à acne. Ocorre em metalúrgicos, que usam óleo de corte e lubrificantes e, em mecânicos com a graxa ( esses últimos, limpam as mãos nas calças e as erupções são comuns nas coxas).

Cloracne: são erupções acneiformes com cistos e cicatrizes devido aos defensivos agrícolas e derivados do petróleo.

Acne cosmética: causada por cosméticos muito gordurosos que contém pós e aqueles que contém derivados do coaltar.

Cânceres: os mais frequentes são os carcinomas basocelulares e espinocelulares e mais raramente melanomas. São lesões em áreas expostas, papulosas e nódulo tumorais e/ou ulceradas. Estão relacionados a agentes físicos, virais e químicos ( alcatrão, carvão, creosoto, derivados do petróleo e arseniacais). (4).

Os trabalhadores das salinas podem apresentar carcinoma espinocelular em pálpebras, devido à exposição excessiva à luz solar.

As lesões traumáticas em profissionais que trabalham ajoelhados (como limpadores de pisos) podem desenvolver lesões pré cancerosas.

Tipos e lesões:

Dermatite de contato: as lesões ocorrem após exposições sucessivas ou não com as substâncias irritantes e são restritas às áreas de contato.

Dermatite de contato eczematosas: as lesões podem ter evolução aguda com eritema (vermelhidão), inchaço, vesículas, bolhas e até infiltrações e liquenificação.

As fotodermatites são influenciadas pela luz ultravioleta com alterações inflamatórias; ocorrem com agentes fototóxicos (sumo de frutas cítricas), ou fotoalérgicos ( drogas, na presença de luz). Predominam em áreas expostas ( 4, 10).

Discromias ( Hipo e Hiperpigmentação):

Hipocromia: o agente mais comum e que causa diminuição da pigmentação da pele, é o mono benzil éter de hidroquinona, usado na indústria da borracha.

Hipercromia: causada pela caviúna e parafenilenodiamina da borracha preta.

Melanose ocupacional: casada pelo antraceno, fenastreno do piche e asfalto.

Lesões das unhas

Oníquias: podem ser infecciosas ou traumáticas. As discromias ungueais ( melanoníquias e leuconíquias), são frequentemente ocupacionais. Exemplo: leuconíquias devido a nitratos e nitritos da indústria têxtil. A melanoniquia, pode aparecer nos profissionais que trabalham com permanganato de potássio, sendo o quadro transitório.

Onicomicoses: alterações fúngicas das unhas presentes em lavadoras de roupa e lavadores de copos e pratos de bares e lanchonetes.

Dermatite Factícia ou Artefacta: são manifestações causadas e mantidas na pele pelo próprio trabalhador, com o objetivo de chamar a atenção e poder ser afastado do trabalho.

Complicações das DO:

As principais complicações das DO são: a infecção secundária, as sequelas ( hiper ou hipo pigmentação), diminuição da produção e incapacidade profissional, além das complicações próprias da malignidade das lesões.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 Alchorne AOA, Alchorne MMA.IN: Belda JR W, Di Chiacchio N, Criado PR. Tratado de Dermatologia.2ª ed. São Paulo: Atheneu,2014,Cap.77,p.1565-1573.

2 Ali AS. Dermatoses Ocupacionais. In: Ferreira, MJ Saúde no Trabalho.1ª. ed. São Paulo: Roca, Cap 8,p.176-226.

3 Pontes de Carvalho LC, Rios JBM.Dermatite de contato: diagnóstico e tratamento.1ª ed. Rio de Janeiro: Revinter,2004:165.

4 Sampaio SAP, Rivitti EA. Dermatoses Ocupacionais. Dermatologia 3ª ed. São Paulo: Artes Médicas, 2007: cap 92,p 1367-75.

5 Schafer T, Bohler R, Ruhdorfer S et al. Epidemiology of contact allergy in adults. Allergy,2002: 57(2): 178.

6 Grupo Brasileiro de Estudo em Dermatite de contato. Estudo multicêntrico para elaboração de uma bateria padrão brasileira de teste de contato. Anais Brasileiros de Dermatologia 2000;75(2): 147-156.

7 Rietschel RL,Fowler JF, Fisher´s Contact Dermatites. 5a.ed.Philadelphia, USA: Lippincot Willians & Wilkins,2001: 863p.

8 Ali SA. Dermatoses Ocupacionais. 1.ed.reimpr, São Paulo:Fundacentro:Fundunesp,1997: 224 p.

9 Alchorne AOA, Alchrne MMA, Macedo MS.Dermatoses Ocupacionais. In: Osmar Rotta- Dermatologia Clínica, Cirúrgica e Cosmiátrica- Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da UNIFESP –EPM.1 .ed. São Paulo: ed Manole,2008: p.205-12.

10 Duarte I, Lazzarini R, Buense R, pires MC. Dermatite de contato. Na brasDermatol.2000;75 (5) :529-48.