A Dermatologia e o Esporte

Data: 04.03.2021

A umidade, a exposição solar, as condições climáticas, o contato físico intenso podem provocar ou agravar dermatoses em atletas (1).

 

Dermatoses por atrito, pressão ou trauma:

A fricção repetida, mesmo leve, pode resultar na formação de bolhas com conteúdo claro ou hemorrágico (2).

Essas bolhas são frequentes nos pés, onde há umidade, calor e fatores anatômicos que facilitam a sua ocorrência (3).

O mais importante para se evitar essas bolhas, é o uso de calçados adequados às características físicas de cada atleta e ao tipo de modalidade esportiva praticada (4).

Recomenda-se usar um par de meias de algodão e sobre elas, um par de meia de acrílico(4), para diminuir o atrito e a umidade.

Patinadores no gelo e de velocidade, usam botas duras, o que favorece a formação de bolhas (5,6).

 

Calos e Calosidades:

Essas manifestações ocorrem em áreas expostas ao traumatismo ou, em áreas de bolhas prévias.

Nos pés, a localização mais comum é no calcanhar e porção lateral. Ocorre em quase todas as modalidades esportivas e, em especial, em ginastas olímpicos, remadores, corredores, lutadores de judô. Nas mãos, esses calos aparecem em levantadores de peso e em esportes com raquete (5,6). Há necessidade do uso adequado do equipamento esportivo.

 

Unha encravada dos pés:

Causada por calçados inadequados e que pode afetar o desempenho do atleta. Em algumas ocasiões, é necessário o tratamento cirúrgico para a melhora do quadro.

Esses traumas podem ocorrer em jogadores de futebol, atletismo, tênis, handebol, basquete e balé. Pode ocorrer ainda fraturas e perda das unhas.

 

Atletas que atuam em grama artificial “turf toe”:

Jogadores de futebol e futebol americano que atuam em grama artificial podem desenvolver lesão em tendões flexores e extensores devido aos esforções de arrancadas e paradas rápidas ( 7).

O halux ( dedão do pé) fica dolorido, vermelho e inchado, sendo necessário o uso adequado do calçado para evitar essas lesões (7).

 

Lesões nos mamilos:

São observados nódulos vermelhos e doloridos nos mamilos e que podem sofrer ulceração, em corredores de longa distância (“jogging”), predominantemente em mulheres, devido ao atrito do mamilo com roupas sintéticas.

Há necessidade de proteção do mamilo para a prática adequada do esporte (8).

 

Nódulos dos atletas:

São nódulos de 0,5 a 4,0 cm, indolores e decorrentes de traumas e fricções repetidas nos tornozelos ou nas articulações das mãos. São mais frequentes em surfistas, boxeadores, jogadores de futebol e lutadores (10).

 

Ombro dos nadadores:

Os nadadores podem apresentar uma placa avermelhada nos ombros, provocada pelo atrito da barba especialmente nos atletas que praticam o estilo livre. Aconselha-se o atleta a barbear-se antes da competição (9).

 

 

Acometimento dos Glúteos:

 

Remadores:

Podem surgir na região glútea placas avermelhadas e , hiper pigmentadas na região sacral, resultante do atrito, durante longos períodos, em assentos inadequados. Deve-se utilizar o assento adequado ao esporte (9).

 

Corredores:

Principalmente os de longa distância que apresentam pequenos pontos hemorrágicos na região superior interglútea. Esses pontos podem desaparecer espontaneamente (9).

 

Cistos das Dançarinas:

São nódulos inflamatórios, doloridos que podem inchar, localizados na região sacral em decorrência de exercícios físicos praticados em superfícies duras como tablados, esteiras e tatames (10).

 

Pontos negros no tornozelo ( “Black heel ou talon noir”):

Trata-se de pequenos pontos sanguíneos ( petéquias) linear ou bilateral, localizados na porção superior dos tornozelos, mas podem surgir na região plantar, dorso das mãos e punhos ( 13). Ocorre em jogadores de basquete, futebol e tênis. Há necessidade de se afastar a possibilidade de se melanoma (9).

 

Pontos negos das mãos ( “black palm ou tache noir”):

Semelhantes aos pontos negros dos pés, podem surgir nas mãos de halterofilistas, ginastas, jogadores de golfe, de basquete de tênis e em alpinistas (9).

 

Hematomas nos pododáctilos dos usuários de tênis (“tênis toe ou jogger´stoenail”):

São hematomas sub ungueais, uni ou bilaterais que podem provocar distrofias nas unhas quando são de longa duração e recidivantes. É comum ocorrer nos halux e segundo pododáctilo em tenistas e maratonistas, esquiadores, alpinistas e praticantes de caminhada (12).

 

Nos Golfistas: esses hematomas surgem nos polegares e dedo indicador, devido à má empunhadura do taco de golfe (9).Esses atletas podem apresentar ainda hemorragias lineares nas unhas das mãos por má empunhadura do taco com excesso de pressão.

 

Nos Esquiadores: pode haver hemorragias nas palmas das mãos devido à má empunhadura do bastão do esqui (9).

 

 

Dermatoses por causas ambientais:

 

Exposição ao frio: esse tipo de exposição pode causar dermatoses com vermelhidão (eritema), inchaço ou mesmo bolhas na face, braço e pescoço. Nos corredores de provas de longa distância, essas lesões podem aparecer no pênis (6,9).

A exposição prolongada sob condições climáticas mais severas tem como consequência, quadros mais graves, denominados frostbite, onde a agressão não se limita à pele, mas ao tecido subcutâneo, músculos e ossos, resultando em áreas de necrose e gangrena, principalmente, nas extremidades( 6,9).

No frio intenso, exercícios físicos prolongados, sudorese, umidade, roupas molhadas, contato com metais, que são bons condutores do frio e a baixa concentração de oxigênio em altitudes elevadas, são fatores responsáveis pelo desenvolvimento de quadros clínicos graves(6,9).

A imersão em piscinas não aquecidas, num ambiente extremamente frio pode causar choque anafilático (9).

 

Lesões induzidas pela luz solar:

Está cientificamente provada a relação entre exposição à luz solar sem proteção e o câncer de pele. Mesmo assim, apenas 6% dos atletas que praticam atividades ao ar livre, usam protetor solar ( 6).

 

 

Doenças Infeciosas: Otite externa dos nadadores

 

Infecções bacterianas. A diminuição da quantidade de cerume do canal auditivo externo, a maceração da pele e a alcalinização local, facilitam a infecção local por bactérias Gram negativas. O trauma local pela secagem, a limpeza excessiva e o uso de substâncias irritantes favorecem o aparecimento da otite externa dos nadadores(9)

 

Foliculite das nádegas:

Trata-se de lesões foliculares, principalmente nas nádegas de nadadores, especialmente do sexo feminino ( foliculite do biquíni) e que permanecem por longos períodos na água. As causas são maceração e oclusão dos folículos pilosos. Streptococcus e Staphylococcus, são as bactérias responsáveis por essas lesões ( 13).

 

Infecção fúngica:

As micoses mais comuns são : tinha do pé, conhecida como “pé de atleta” e a tinha crural ( virilha). Ambientes contaminados como banheiros, vestiários e piscinas somados a fatores individuais contribuem para a manutenção da infecção fúngica. Essas lesões aparecem em diversos tipos de atividades esportivas como jogadores de futebol, tenistas, nadadores, corredores e patinadores(7).

 

Dermatite de contato:

A borracha é o material que com maior frequência, produz dermatite de contato alérgica. Nadadores , mergulhadores e esportistas que usam óculos ou máscaras podem desenvolver dermatite de contato ao redor dos olhos com possibilidade de pigmentação da pele desse local ( 9,13).

 

Erupção acneiforme:

A pressão local com o uso de equipamentos, a fricção, o aumento da temperatura, a oclusão causada por óleos, pós ou uniformes e o uso de anabolizantes, desencadeiam, ou recidivam a acne vulgar pré existente. A face, os ombros, o tórax e o dorso, são as regiões mais afetadas (5,7).

 

Cabelos verdes:

A alteração da cor dos cabelos ( cabelo verde) dos nadadores, especialmente os de pele e cabelos claros, é provocada pelo cobre existente nos algicidas e nas tubulações, com a participação do cloro ,usado no tratamento da água ( 9,13).

 

Víbices ou estrias:

As estrias, que podem ser vermelhas, cor da pele ou claras, resultam do rompimento das fibras elásticas da pele. Ocorrem em nadadores e atletas que fazem musculação sendo mais frequentes no dorso, ombros e coxas (9).

 

Orelha quebrada dos lutadores de judô:

Esse tipo de lesão se inicia com um processo inflamatório, com eritema, dor e inchaço. Pode ocorrer , em seguida, descontinuidade da cartilagem do pavilhão auricular, aumento e deformidade da orelha, devido ao impacto do quimono nesse local (9).

 

 

Referências Bibliográficas

1 Alves ACF.In Belda JR W, Di Chiacchio N, Criado PR. Tratado de Dermatologia. 3ª ed.Rio de Janeiro: Atheneu, 2018, Cap.81,p.1833-1840.

2 Basler RSW. Skin injuries in sports medicine. Jam Acad Dermatol.1989;21:1257-62.

3 Joy RJT. The effect of prior heat acclimatization upon military performance in hot climates.Mil Med 1964;129;51-7.

4 Herring KM Richie DH. Friccion Blisters and sck fiber compodition. A double blind contolled study.J Am Pediatr Med Assoc 1990;80:63-71.

5 Dover JS. Sports dermatology. In: Fitzpatrick TB, Eisen AZ, Wolf K et al. editors.Dermatology in general medicine.New York: MacGraw Hill,1991.p. 167-23.

6 Tlougan BE, Mancini AJ, Sanchez MR,et al. Skin Conditionsin figuresskaters Ice-hockey playersand Speed Skaters-Part I Mechanical Dermatoses.Sports Med 2011;41(9):709-719.

7 Montgomery RM. Tennis and its skin problems. Cutis 1977;19:480-2.

8 Levit F.Jogger´s nipples[letter]. N.Engl J Med 1977;297: 1127.

9 Pharis DB,Teller C,Wolf JE. Cuteneous manifestations of sports participation. J Am Acad Dermatol 1997;36:448-9.

10 Radford PJ, Greatorex RA. Jazz ballet bottom. Br Med J 1987;295: 1173.

11 Izumi AK.Pigmented palmar petechie (black palm). Arch of Dermatol 1974;109: 261.

12 Sher RK. Jogger´s toe. Int J Dermatol 1978;17:719-20.

13 Wilkinson. Black heel. Cutis 1977;20:393-6.